Pesquisadores da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Ceará e do Grupo de Estudos em Oncologia (GEEON) realizaram um levantamento epidemiológico do câncer de mama nos últimos 10 anos no Estado do Ceará, principalmente no município Fortaleza, e constataram que houve um aumento de 40% no número de casos e de 59%na mortalidade pela doença – uma evolução de 9,98 para 15,92 por 100 mil mulheres. Os dados mais preocupantes foram os de casos novos em mulheres jovens, abaixo dos 40 anos, que aumentaram para 12%, assim como em mulheres acima dos 50 anos, para 53%.
O estudo também avaliou o rastreamento mamográfico no período e revelou um crescimento na cobertura de 6%, em 2009, para 33%, em 2016. No entanto, logo em seguida ocorre uma queda, chegando a atingir 26% em 2018, na capital. Já o interior do estado seguiu o mesmo padrão de oscilação, porém muitas mulheres usam o endereço de Fortaleza para facilitar acesso aos serviços que não são encontrados no interior.
Embora a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) realize constantemente campanhas de conscientização à prevenção e ao diagnóstico precoce, a maioria das mulheres com câncer de mama no Estado é diagnosticada em estágio avançado, muitas pacientes já com a doença metastática. Em 2009, 66% das mulheres chegavam com tumores acima de 2cm, já em 2018 esse percentual aumentou para 78% – um incremento da ordem de 12%. Isso impacta diretamente na mortalidade pela doença, que também aumentou. Em 2009, por exemplo, foram registrados 438 óbitos, com progressão ascendente para 734.
De acordo com a presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Ceará, Dra. Aline Carvalho, as campanhas ajudam na disseminação da informação, mas infelizmente muitas vidas não conseguem ser poupadas. “A SBM recomenda que a mamografia de rastreamento, ou seja, o exame feito em mulheres sem sintomas seja realizado a partir dos 40 anos anualmente. Porém, após a análise dos casos em nosso Estado, será necessário implementar um plano prioritário de rastreamento mais efetivo para o diagnóstico precoce do câncer de mama na faixa etária abaixo dos 40 anos e acima dos 50 anos, já que houve um aumento importante no número de casos novos nessas faixas etárias”, explica ela.
O levantamento também mostrou que o cumprimento da Lei dos 60 dias ocorreu em 78,7% dos casos novos atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2018. Em pelo menos 35% dos casos as pacientes demoraram mais de 30 dias para conseguir realizar a biópsia. “Esse número ainda é considerado elevado, já que o atraso no diagnóstico reflete no aumento da mortalidade e na agressividade dos tratamentos”, diz a mastologista, concluindo que neste momento de flexibilização o isolamento social a retomada da realização da mamografia está acontecendo aos poucos de acordo com o cronograma de cada região.