O jovem designer Maurício Duarte, nascido em Manaus (Amazonas) e pertencente ao povo Kaixana, localizado no Alto Solimões, é o idealizador desse projeto e sonho, fruto de muito trabalho, do choque entre as florestas, da alusão às suas raízes indígenas e do contraste concretista das grandes metrópoles. Com cortes disfórmicos e únicos, o artista abraça os saberes manuais e a moda com iniciativas positivas.
Sua coleção chamada “Tramas” recebe esse nome por abordar a construção das cestarias indígenas, que são um patrimônio cultural dos povos originários do Amazonas. Esses povos têm carregado consigo os conhecimentos e habilidades artesanais ao longo dos tempos. Para a produção dessa coleção, foi necessária a participação de 16 comunidades indígenas distintas, que contribuíram na confecção dos artesanatos, compartilhando seus
conhecimentos, habilidades artísticas e conexões ancestrais.
“Falar sobre ‘Trama’ é falar sobre aquilo que construímos, como uma teia tecida pelo coletivo que somos. Mesmo sendo de diferentes povos, que carregam os mesmos costumes e compartilham características históricas semelhantes. Estamos lutando pelo reconhecimento e visibilidade, buscando que as pessoas conheçam nossas tradições e culturas além dos meios midiáticos”, contextualiza Maurício, diretor criativo da marca que leva seu nome.
As formas geométricas presentes nos cestos e balaios são as principais inspirações para as peças da coleção, que apresentam formatos cilíndricos e circulares, originalmente encontrados em tipitis, luminárias e balaios. Essas formas remetem às memórias afetivas da infância do designer. As fibras de arumã e tucum, amplamente utilizadas nas comunidades tradicionais na construção de utensílios domésticos e decoração, são as principais matérias-primas para a confecção de acessórios e roupas. A intenção é evocar as fibras e os elementos do cotidiano ancestral, transmitindo a ideia de que o artesanato pode estar presente na moda da mesma forma que pode ser interpretado como decoração.
A coleção utiliza uma abordagem de alfaiataria moderna, com destaque para o tecido 100% algodão fornecido pela Vicunha Têxtil. Além disso, há a utilização de tecidos que mesclam algodão e juta cedidos pela Textilfio, proporcionando maior fluidez às peças de malharia. Durante o processo de construção artesanal, a fibra de arumã é utilizada para a confecção das peças mais estruturadas, como as faixas que acompanham as chemises, os acessórios de cabeça e a saia com corset, que é o destaque principal da apresentação. Já a fibra de tucum, que é mais maleável e semelhante a uma renda, é utilizada tanto de forma natural quanto na forma de fios encerados com breu branco.
O trabalho foi realizado em estreita colaboração com os artesãos, refletindo a cultura e o fazer manual, e buscando trazer para as passarelas a visão de Maurício, que acompanhou de perto todos os processos, desde a colheita até a confecção.
Assista ao desfile:
SOBRE A MARCA
A marca Maurício Duarte carrega a força das raízes indígenas do seu idealizador. O propósito é transmitir através da moda a importância dos saberes ancestrais, demonstrando em cada uma das peças a mesma força das pinturas corporais de seu povo. Construída e pautada por princípios de sustentabilidade e economia circular, os processos criativos são de maneira artesanal e slow fashion, acreditando em um novo mundo de possibilidades, parcerias e oportunidades agregando toda a riqueza cultural, ancestral e a biodiversidade existente na Amazônia.