O Brasil é o terceiro país que apresenta o maior número de casais separados que aderiram à campanha AMOR NÃO É TURISMO. Segundo a plataforma, o Brasil fica atrás dos Estados Unidos e da Alemanha. Ryan e Joyce planejam morar no Canadá, mas as restrições impostas ao fluxo de turistas pelo mundo forçaram o adiamento de seus planos e eles acabaram separados por conta das restrições de circulação impostas pelos governos como forma de limitar o alcance da pandemia de Covid-19.
Ele é um canadense discreto, que nas horas vagas, roda o mundo fazendo esportes radicais. Ficou sabendo sobre os ventos do Cumbuco e se mandou para o Ceará com um amigo para fazer kitesurf! À noite, em uma festa na praia, seu amigo avista uma deusa de cabelos azuis que estava acompanhada de uma amiga e se aproxima. “Hi, excuse me! My name is…” A conversa rola, amigos-acompanhantes são apresentados, mas quem imaginaria que o amigo low-profile e a garota de cabelos azuis entrariam em uma sintonia incrível por um ano e nove meses?
Ela é uma brasileira, residente no Ceará, cheia de talento, espontaneidade e personalidade – ou você acha que é fácil sustentar uma cabeleira azul? Ela adora Madonna, Michael Jackson e Amy Winehouse, mas o talento é tanto que ela canta e dança qualquer coisa há mais de 20 anos… Really! Nesse dia no Cumbuco ela estava de bobeira com a amiga. As duas saíram de casa só para não desperdiçar o fim de semana e resolveram esticar até o Cumbuco.
Rayn e Joyce se olharam, se aproximaram, conversaram, dançaram, beberam, conversaram mais um pouco, riram muito, não notaram que o sol já nascia e nem que em breve seriam Ryan e Joyce até que a… pandemia os separasse. A envolvente história de amor de Ryan Murphy e Joyce MalKolmes empancou completamente! Planos de viagem, intercâmbio e casamento estavam on hold por tempo indeterminado. Desde então, os dois vivem um relacionamento à distância e sem perspectivas de quando vão se reencontrar.
Após choro, desespero, telefonemas, e-mails e algumas intervenções estratégicas, parece que não somente o nosso casal, mas muitos outros casais pelo Brasil e pelo mundo, na mesma situação dos nossos protagonistas, estão vendo uma luz no final do túnel. Uma frota de advogados, juristas, cartórios, agências de correio, representantes consulares e embaixadas estão sendo mobilizadas para deixar que a história de amor iniciada nas praias do Cumbuco tome propulsão e voe além mar.
Há sempre esperança
Dra. Myrcea Harvey, advogada – ela mesma casada com o americano Glen Harvey há 15 anos – tomou o caso para si após ter sido indicada por um amigo mútuo do casal. Reuniões se seguiram e, em pouco mais de duas semanas, parece que Ryan e Joyce já podem esboçar sorrisos e vislumbrar algumas datas. Sensibilizado, como muitas estações de TV pelo mundo, um canal de TV cearense colocou no ar uma matéria.
AMOR NÃO É TURISMO
Ryan e Joyce se associaram à campanha das plataformas Love is Not Tourism (“Amor não é turismo”) que pede a liberação de viagens de pessoas em relacionamentos de longa distância e familiares que estão longe do seu país de origem. O movimento usa na internet as hashtags #LoveIsEssential (amor é essencial) e #LoveIsNotTourism (amor não é turismo). Muitos casais binacionais separados pela proibição de viajar têm se unido nas mídias sociais. Os casais se comprometem a entregar testes negativos de corona vírus pagos com o próprio dinheiro na partida e na chegada, usar máscaras em aeroportos e aviões, ir direto para a quarentena e ficar em casa em pleno aconchego emocional e físico com sua cara-metade.
A campanha aparentemente tem dado alívio a muita gente que anteriormente se sentia meio só em meio a situação aflitiva. Conhecer outras pessoas que estão passando por situações semelhantes e contribuem com ideias na busca de alternativas certamente tem dado esperanças a muitos casais.
A prática da flexibilização da restrição já é oficial em quatro países europeus – Dinamarca, Noruega, Holanda e Áustria. O primeiro nessa corrida a favor do amor foi a Dinamarca, que oferece esse privilégio para não residentes da União Europeia que estejam em um relacionamento com um residente dinamarquês por um período que exceda três meses em que ambos tenham se encontrado pessoal e regularmente.
O preço pago por amar
Financeiramente, é difícil calcular, especialmente porque cada caso é um caso e, assim, há variações de tempo como também níveis de tramites legais e logísticos. Sabe-se, em contrapartida, que a pandemia por si só já conduz por caminhos de ansiedade e redefinição de amplas questões familiares, comerciais, profissionais, sociais – e financeiras. Há muito tempo, energia e dinheiro investidos em todos estes tramites entre países estrangeiros. Os que estão vivendo esse isolamento emocional estão ainda mais mexidos. O desgaste psicológico é altíssimo. Alguns se enfraquecem fisicamente pelo stress da incerteza de não estar junto da pessoa amada. Outros estão sem emprego ou morando de favor em casa de amigos e familiares por já terem se demitido de seus empregos ou vendido seus pertences em preparação para morar em outra cultura.
Sorte aos que insistem no amor e plena sabedoria a todos os profissionais envolvidos na facilitação do bem viver.