Nossa entrevistada de hoje é uma mulher cosmopolita, vibrante, simpática e articulada. Profissionalmente, ela é consultora em educação, educadora e tradutora. Sabemos que ela nasceu em Montevidéu, que seus pais se mudaram para Buenos Aires quando ainda era um bebê, que morou na Argentina a maior parte de sua vida, mas que também morou no Rio de Janeiro, em Madri e, atualmente, mora em Paris. Aqui, vamos conhecer ainda mais sobre Mariela Larrosa, nossa Mulher de Vitórias da vez. Que seu sorriso cativante e palavras envolventes possam inspirar você a novos conhecimentos e habilidades através desta rápida leitura.
Mariela, conte-nos sobre você.
Sou uma pessoa que ama a vida, as pessoas, os animais e a natureza. Sou muito curiosa, adoro viajar, conhecer novas culturas. Eu também adoro passar tempo com minha família e amigos. Fico indignada com injustiça social e discriminação. Me considero uma pessoa muito trabalhadora e lutadora.
Qual a sua profissão?
Iniciei minha carreira profissional como professora de inglês para executivos. Mais tarde, especializei-me no ensino de espanhol como língua estrangeira. Sou o fundador do Mundo Español, uma instituição de intercâmbio cultural localizada na cidade de Buenos Aires. Além disso, sou tradutora de francês, inglês e português para o espanhol para clientes como Bloomberg, Netflix, e RedBull. Há alguns anos, sou professora e consultora de Liderança. Trabalho como professora e consultora em escolas de negócios e como consultora de executivos na França, e como consultora de Liderança Educacional e Aprendizagem Social e Emocional para escolas primárias e secundárias em diferentes países.
Como você se preparou academicamente?
Tenho um Bacharelado em Inglês; uma diplomatura em Administração de Empresas; um mestrado em Ciências da Educação; um diploma em Consultoria de Liderança e um em Aprendizagem Social e Emocional.
Como você descansa a mente?
Fácil – tenho meus hobbies: assistir filmes com meus filhos e meu marido, viajar, ouvir todo tipo de música e ler.
Você é uma pessoa de muitas amizades?
Para mim, a amizade é um grande tesouro que a vida nos dá. Tenho grandes amigos que considero parte da minha família. Embora à distância, o amor continua intacto, e cada vez que nos vemos é uma festa. Meu melhor amigo e irmão é Javier Tort. Ele tem realmente me acompanhado bem perto durante toda a minha vida – até mesmo no Mundo Español.
O que é o Mundo Español?
Fundei o Mundo Español em 1995. Foi uma das primeiras escolas a dar aulas de espanhol para estrangeiros da Argentina. Ao longo dos anos, recebemos alunos de vários países, principalmente do Brasil, Estados Unidos e Alemanha. Temos convênios com inúmeras instituições de ensino, como diversos Institutos Federais Brasileiros (como Colégio Pedro II), Columbia University (NY), Humboldt University (Berlim), dentre outros. Desde 2015, mudamos o nosso modelo de negócio e agora só recebemos turmas “fechadas”, ou seja, turmas de alunos que são acompanhados por seus professores desde o país de origem, e aos quais oferecemos programas personalizados. Esses programas geralmente incluem aulas de conversação e cultura argentina, bem como atividades culturais (aulas de tango, visitas a museus e aula de culinária argentina).
Quando recebemos alunos adolescentes, os levamos para conhecer uma escola em Buenos Aires, onde poderão interagir com alunos argentinos. Nossas aulas são ministradas em uma sala nos bairros de San Telmo ou Palermo. Uma outra coisa: também oferecemos cursos de atualização para professores de espanhol como língua estrangeira, tanto em Buenos Aires como em várias cidades do Brasil. Além disso, sou co-fundador da Associação Argentina de Escolas de Espanhol, onde fui presidente e responsável pelas relações internacionais, o que me tem dado bastasnte experiência no lidar acadêmico e pessoal. A pandemia do COVID nos prejudicou muito, já que nossa atividade é o turismo educacional. Mas desde 2023 começamos a receber alunos do Brasil e dos EUA.
O Mundo Español oferece algo mais?
Temos programas de Liderança Educacional e Aprendizagem Social e Emocional para professores de diversas disciplinas e diretores de instituições de ensino, em colaboração com a IELI Consulting, onde sou uma de suas diretoras. Recebemos grupos de estudantes em Paris. Com o mesmo conceito do Mundo Español: aulas de conversação (em francês, claro) e atividades culturais em Paris.
Como é você no contexto familiar?
Tenho a sorte de ter dois filhos maravilhosos, pessoas boas, inteligentes e saudáveis, e um marido que é o melhor companheiro de vida. E tenho a felicidade de ter tido uma família imediata muito unida com meus pais e meus dois irmãos.
O que te dá força?
Passei por algumas grandes dificuldades em minha vida, que me deram forças para lutar e não desistir. Talvez eu possa dizer que “tocar em frente” tem me dado força!
Qual a importância de viajar?
Viajar é uma das minhas atividades favoritas. Adoro viajar, conhecer novas culturas, línguas, sabores, etc. Acho que viajar “abre a mente”, ensina a ser tolerante com as diferenças e faz com que a pessoa se conheça melhor.
Sua empresa também faz intercâmbios, você pensa que todas as pessoas deveriam fazer um?
Sim, porque os intercâmbios permitem-nos ver a vida de outra perspectiva, o que nos ajuda a desenvolver a tolerância face à diversidade. A gente também aprende a se conhecer. Claro, também ajuda a adquirir ou aprimorar o idioma, aprender sobre cultura, história, etc.
O que você nos diz da Argentina?
É meu país. Apesar de todos os problemas que tem, é uma grande nação. País de grande literatura, arte, medicina, etc., sem falar de esportistas como Lionel Messi e Diego Maradona, de atores e atrizes como Ricardo Darín, Héctor Alterio, Cecilia Roth e alguns músicos como Carlos Gardel, Gustavo Cerati e Mercedes Sosa. País de belezas naturais, que compreendem geleiras, desertos, selvas e mares. País que recebeu e continua recebendo tantos imigrantes – italianos, espanhóis, libaneses, bolivianos, venezuelanos, etc. Buenos Aires: berço do tango, uma cidade com milhares de livrarias e milhares de teatros que lotam todos os finais de semana, e lindas ruas que convidam a flâner.
“FLÂNER”
Flâner vem do verbo francês e significa passear, perambular à passos desacelerados. Temos esta palavra em português também – Flanar: andar despreocupadamente, sem destino específico, apenas apreciando o ambiente ao redor. Isso pode proporciona uma sensação de liberdade e leveza – especialmente se não carregamos apenas o necessário conosco – permitindo explorar o ambiente de forma tranquila, observando detalhes e se desconectando das preocupações do dia a dia. É uma oportunidade de relaxar e apreciar o momento presente. Flanar também pode ser uma forma de conhecer melhor a cidade ou o bairro onde se vive, e descobrir novos lugares e experiências que podem passar despercebidos no dia a dia. Além disso, o ato de perambular pode ser uma forma de exercício físico, já que caminhar é uma atividade saudável para o corpo. Flanando, percebemos a podemos aprender sobre a arquitetura, a história e a cultura de um lugar, observar as interações sociais, descobrir novos espaços e estabelecimentos, além de desenvolver uma maior consciência do ambiente ao seu redor. Legal, não é?
As ruas de Buenos Aires são flanáveis?
Sim, são. Na verdade, temos bairros inteiros que se prestam muito bem à esta atividade. É especialmente gostoso flanar nos bairros de San Telmo, Caballito, Palermo, Belgrano e Recoleta, dentre outros muitos locais!
Qual o seu maior sonho atualmente?
Meu principal sonho é que meus filhos tenham uma vida cheia de alegria e muita saúde. Além disso, que haja cada vez mais justiça social no mundo e que nosso planeta seja um lugar habitável para as gerações futuras. O ideal é que crianças e adolescentes tenham as mesmas oportunidades daqueles que têm o privilégio de ter uma família e/ou melhores recursos. Instituições privadas e empresas poderiam ajudar em empreendimentos relacionados à educação, por exemplo, concedendo bolsas para estudar em instituições com ensino de qualidade, auxiliando-os em viagens de intercâmbio, proporcionando-lhes aprendizado emocional e social, terapia, etc. Há tantas maneiras de ajudar….
Você tem algum medo?
Não sou uma pessoa muito medrosa, mas tenho medo de que algo sério aconteça com meus filhos. Além disso, eu teria medo de viver em uma sociedade onde predominam o ódio e a discriminação.
Você se considera uma pessoa de sucesso?
Eu me considero uma pessoa de sucesso em alguns aspectos: em primeiro lugar, por ser livre e gozar de boa saúde; por ter uma família linda, amigos irmãos, e por poder trabalhar no que gosto.
O que lhe traz felicidade?
Costumo sentir alegria pelo Rio de Janeiro e Buenos Aires, e pelos amigos e familiares que tenho nessas cidades. Tenho sorte de receber muito amor (do meu marido, pais, filhos, irmãos, amigos, do meu gatinho, dos alunos) e de poder dar muito amor, em retorno. É importante cultivar o amor com cada ser vivo e mantê-lo. Considero, todavia, que a felicidade não é algo permanente – a vida é cheia de altos e baixos. Por isso devemos procurar aproveitar o presente, deixar-nos deslumbrar pelas pequenas – e não tão pequenas coisas também – que a vida nos dá e, sobretudo, agradecer à vida por tantos dons (respirar, ter um teto, saúde, etc).
Qual o seu sentimento sobre o Brasil?
Sempre digo que em outra vida fui brasileira. Eu amo aquele país. Quando estou lá, me sinto em casa. E sinto que aquele país me ama. Ainda não o conheço muito bem (por exemplo, não conheço o Nordeste, para onde quero muito ir). Mas morei no Rio de Janeiro, cidade que carrego no coração.
Você tem alguma música significativa para você?
Sim. Na verdade, tenho duas músicas: uma que está me definindo – ou que quero que me defina – cada vez mais é “Tocando em Frente”, de Almir Sater (e cantada por Maria Bethânia) e “O que é, o que é ” de Gonzaginha: “Viver e não tenha vergonha de ser feliz; cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”. Na canção de Gonzaguinha, eu me identifico com todas a letra, principalmente com o fato de que se está aprendendo o tempo todo e que nunca se deve perder a esperança de um mundo/vida melhor.