Os profissionais da Arquitetura transformam ideias, palavras e sonhos em espaços criativos, racionais, confortáveis e estéticos! Eles, muitas vezes, têm que ter atribuições de mágicos, psicólogos, intelectuais, sociólogos – dentre outras tantas – para que estes espaços se concretizem. Por outro lado, quando finalmente tudo está pronto, o resultado é sempre um espetáculo! Vamos saber sobre uma das profissionais mais disciplinadas, amáveis e dedicadas da área que eu já encontrei em um ambiente acadêmico nos últimos anos. Emmanuelle Matos – arquiteta e professora universitária – compartilha seu concorrido tempo, ideias e paixões sobre suas profissões, sobre si mesma, e ainda aproveita para fazer uma calorosa declaração de amor. Todos prontos para uma trajetória de superação pessoal diária e obstinado sucesso profissional?
O que é Arquitetura?
É algo único. Uma vivência na área criativa. 100% percepção de si e do outro. Olharmos para o espaço construído é essencial. É nele que desenvolvemos a maioria das nossas atividades cotidianas e experimentamos variados sentimentos. Sobre a profissão em si, certamente, é uma das mais gratificantes… Arquitetos materializam sonhos. Expressar a personalidade de uma empresa, ou pessoa, através de um projeto arquitetônico não é tarefa fácil. A participação de um arquiteto em um projeto é a certeza de que cada espaço projetado será utilizado da melhor maneira possível. A arquitetura nos ajuda a vivermos melhor em nossas cidades, casas e até entre si.
Como você se sente dando aula de Arquitetura?
Sou apaixonada pelo que faço, mas a escolha de lecionar foi uma escolha difícil. Muitos amigos e familiares me questionaram sobre isso. Eu poderia ter um retorno econômico bem maior atuando somente na área de projetos… E eu confesso que até tentei… Mas não encontrei a mesma sensação que tenho dando aula apenas projetando para clientes. Na educação encontro prazer. A dinâmica da sala de aula e o lidar com personalidades diferentes são tarefas difíceis, mas prazerosas. As frustrações aparecem, com certeza, por conta do sistema educacional, social e cultural que temos… Quando comparo a nossa realidade com a de outros países percebo que o Brasil não dá o devido respeito à educação, mas dar aula me faz feliz.
O que é mais importante beleza ou função?
Pergunta difícil… A beleza sem função é só contemplativa… Não que isso seja totalmente ruim, mas gosto da interação humana: o ambiente não apenas deve se mostrar belo, mas deve transmitir conforto e comodidade aos seus usuários – esses dois fatores estão intimamente ligados à produtividade e ao bem estar. Quando entendemos a função de algo, encontramos beleza e prazer no seu uso, assim, naturalmente o valor afetivo aumenta e o significado também.
Você tem alguma mania?
Jardinagem: amo plantas! Esse é um dos motivos que me fez seguir a área ambiental dentro da arquitetura. Em casa, eu tenho um pequeno jardim onde eu passo boa parte do meu tempo livre! São 20 m² de muito amor enraizado. Esse amor vem de longas datas: minha mãe mora em uma casa com muitas plantas e meu pai mora em um sítio. Assim, desde mais nova, aprendi a fazer mudas, identificar plantas, e valorizar tudo de bom que elas podem nos dar. Minha experiência pelo mundo afora não é diferente. Sempre que viajo, tento visitar jardins e parques – gosto de observar o entorno – a paisagem. Quando encontro alguma planta que me atrai, quero logo saber a sua história, propriedades medicinais, holísticas, etc. Já fiz curso de bonsai, extração de mudas e criação de enxertos. A jardinagem me diverte e acalma.
O que você geralmente ouve e lê?
Sempre gostei de música. Tenho uma música para cada momento. A primeira que me vem à mente agora é I Follow Rivers de Lykke Li. As pessoas associam sua letra a um amor… e parece que esta é a intenção do autor, mas eu a associo a um sonho. Gosto de começar meu dia com ela. E já saio no ritmo a procura dos meus! Cheguei a ter aulas de flauta no Conservatório Alberto Nepomuceno. A rebeldia da época me fazia ter mais atração pelo rock, então, comecei a estudar violão. Hoje me falta dedicação ao instrumento, mas como sou persistente, sigo aprendendo. O violão ultimamente tem dado espaço ao mini sax alto. Confesso que achei que a embocadura seria mais fácil. Lester Young faz parecer que é. Mas não desisto! Sou curiosa e sigo aprendendo. Leio de tudo. Na minha estante, pode-se encontrar de literatura russa a livros de drenagem urbana passando por biografias e receitas de comidas mexicanas. O livro que me arrebatou não foi o último que eu li, tampouco é um. Na verdade é a coletânea do Miguel Torga: Diário. São vários volumes, um apanhado de poesias que acariciam a alma.
Algum outro passatempo?
Amo receber amigos e cozinhar para eles. Em minha casa, as conversas só têm hora para começar. Amo cozinhar para mim e para meus amigos. Posso até “tentar” fazer de tudo, mas me dedico mais a exercitar minhas habilidades culinárias usando café. Sempre experimento novas formas de tomá-lo e harmonizá-lo. Além disso, me esbaldo nos sabores e aromas calientes da cozinha mexicana. A regra áurea dos fins de semanas em casa é: Bons amigos, boa comida, boa música e infinitas conversas.
Quais os sonhos de uma pessoa criativa?
São tantos… Entre reais e surreais, sonho com estabilidade, sabe aquela cena de comercial de margarina, pois é, quero aquilo! Casa, marido e pets lindos… Quando faço o meu mapa mental sobre sonhos, encontro a seguinte resposta: eu vivo hoje o meu comercial de margarina. Sou completa com minha espiritualidade, vivo em uma estrutura familiar cheia de amor, respeito e cumplicidade. Esses fatores me dão segurança para crescer na minha profissão e investir na minha saúde. Boa parte daquilo que já foi sonho hoje é realidade. Por conta disso, meus sonhos, hoje, viraram planos e estão muito mais pautados na manutenção do que já conquistei. Um filho é sempre uma boa consequência disso, mas não me cobro, por enquanto só pensamos nisso. Nossa casa aparentemente não tem nada de excepcional: é o suficiente para duas pessoas. Ela tinha três quartos, quebramos dois para aumentarmos nossa área de convivência social – sala e cozinha – e podermos assim acomodar melhor os amigos. Temos uma estante de livros e souvenirs que vai da sala até a cozinha. Nossa cozinha se integra com a área externa por uma janela que lembra uma casinha de interior, e é nesse pátio que a maior parte dos movimentos sociais da casa toma forma. Temos a Regina, e, como o nome bem diz, ela é a rainha da casa. A propósito, Regina é nossa amorosa gata de 4 anos cheia de charme, personalidade e estilo. Além dela, temos alguns peixes e algumas orquídeas. A nossa rotina em casa é bem comum, mas a melhor parte é que nos divertimos com tudo, somos bons em bagunçar a casa e melhores ainda de arrumá-la. É como minha mãe diz: “não gosto nem de elogiar pra não estragar.” Enxergamos alegria e prazer nas coisas simples.
Fale sobre o Amor neste seu sonho real de comercial de margarina.
Ele é essencial. Eu primeiro me amo, me encho de amor e depois tento repassá-lo adiante. Tento ser instrumento de amor para todos os que estão a minha volta. O amor é o que move tudo… É como está em Coríntios 13… Sem amor não somos nada… Naturalmente me considero uma pessoa pacífica, mas isso é resultado de um trabalho íntimo e diário. Encontro satisfação servindo aos outros. Sempre quis me engajar em projetos sociais, mas nunca consegui… Então me cobrava muito sobre como exercer a caridade e o amor ao próximo. Hoje encontro na função de professora espaço para isso. A cada situação que ajudo a resolver, ou um simples interesse que desperto em um aluno me dá imensa satisfação. Sinto que ali estou dando o meu melhor. Para mim, isso é ser instrumento de amor. É escolher não ser omissa. É identificar nas ferramentas que tenho à minha disposição meios de fazer a diferença na vida de alguém.
Você tem alguma história de amor que queira compartilhar?
Érico Peixoto é a minha melhor história de amor. Temos um casal de amigos em comum. Sempre que eu me encontrava com esse casal e as conversas enveredavam por temas como história, literatura, música e xadrez, eles diziam que tinham um amigo que eu iria adorar conhecer, alguém muito inteligente e que sabia tudo sobre esses e muitos outros temas. Mas o tão aguardado encontro nunca acontecia. Os anos passaram, as vidas de ambos seguiram e, em 2014, em um churrasco na casa desse casal, finalmente nos encontramos. Falamos sobre música, especificamente “A Sagração da Primavera” de Stravinsky, sobre literatura, bebidas e uma variedade de assuntos noite adentro. Trocamos telefones. Durante a semana, ele me chamou para tomar um café. Fui sem pretensão alguma, na expectativa de tomar um bom café e relaxar com uma boa conversa. Tomamos muitos outros cafés nas tardes que se seguiriam. Tudo era usado como desculpa para “um bom café e uma boa conversa”. Certo dia, o café da tarde deu lugar ao Café Pagliuca, um charmoso restaurante em Fortaleza, Ceará, que encerrou as suas atividades em junho de 2018. O local foi cenário de nosso primeiro beijo, de declarações de amor e de animadíssimas comemorações. Boa parte do meu sucesso eu devo ao Érico, meu marido hoje. Ele é meu porto seguro. Sozinha eu me considero até uma boa pessoa, mas com ele, sem dúvida, eu sou bem melhor! Ele é como um revigorante, quente, aromático e gostoso café para mim… Meu dia começa sempre com ele!
E quais os seus projetos para o futuro?
Profissionalmente, quero me qualificar continuamente, ser mais completa. Não quero parecer pretensiosa, mas tanto na profissão de professora como na de arquiteta, precisamos saber, conhecer, experimentar. Em curto prazo, eu diria que o plano é viver, sobreviver… Em médio prazo, pretendo ir a Dubai estudar um pouco as tecnologias empregadas por lá e, quem sabe, trazer alguma coisa para cá. As especificidades do mercado fazem com que o processo de aperfeiçoamento seja algo contínuo. Amo estudar – acredito ser algo revigorante. E a globalização veio para nos prover com acesso a lugares, pessoas e tecnologias. Arquiteto precisa ter repertório, precisa ter bagagem. Viajar, mesmo que seja pela internet, é fundamental. Se puder guardar dinheiro e viajar mesmo, então, é ainda melhor. Aprendemos muito mais na vida real e em viagens pelo mundo que nos bancos escolares. Ler segue a mesma lógica: pesquisar e ir além sempre! Planejo muito, e tento não me cobrar ou sofrer tanto quando o plano não funciona. Planos podem ser mudados, redirecionados ou adaptados. Viver é o que interessa!
O que você gostaria que as pessoas retivessem desta entrevista?
Quando você me falou sobre entrevistar mulheres de sucesso, fiquei na dúvida se eu seria uma boa referência, mas, pensando bem, o sucesso depende do referencial. Posso dizer que quando se planta feijão, o que vai nascer é feijão; então, gostaria que os leitores percebessem que não tem nada de surreal na ideia de ter sucesso. Somos todos vitoriosos, se pensarmos bem! O principal é escolher o que plantar, fazer o que é preciso para aquela semente germinar e aguardar os devidos frutos. Vale lembrar que assim como as plantas, alguns planos dão frutos em estações diferentes. Boas escolhas e frutos a todos!