A Mulher de Vitórias da vez é Alana Alencar, advogada, poetisa e produtora. Dona de uma vitalidade invejável, Alana é capaz de realizar múltiplas tarefas em um mesmo dia. Seu temperamento expansivo a faz uma excelente líder, que busca sempre estar à frente de seu tempo. Ela acredita que a vida deve ser vivida intensamente. Corajosa e apaixonada, sua força interior sempre a guia para novos desafios. Alana não teme falar o que pensa, tem espírito pioneiro e se mostra uma pessoa que sabe mesclar bom humor, pensamento ágil e a certeza de sempre achar soluções inusitadas e certeiras. Mesmo primando por sua liberdade para expressar seus dons e potenciais, Alana cria espaço e condições para equilibrar suas várias funções e tarefas. No Dia Internacional da Mulher, podemos achar em todo o seu dinamismo e força, inspiração para celebrar a data através da vida de uma bela, moderna e multitalentosa mulher .
ALANA POR ALANA – Não sei… Cada dia, há algo diferente… depende do que o dia me oferece. Me sinto em excesso, não sei porquê… ou talvez eu saiba.
ESTUDOS – Estudar é uma questão burocrática. Penso que, na vida, para sobrevivermos precisamos aprender coisas e apreender o mundo que nos cerca…. Isso se dá naturalmente pela inteligência que somos capazes de exercer…. Estudar nos possibilita usufruir da nossa inteligência. É ato contínuo pelo que nos interessamos… ainda que indireta. Estudei direito, meio que por obrigação. Hoje estudo psicanálise e literatura por amor.
PROFISSÃO – Sou poetisa. Fiz da minha angústia um ofício. Também trabalho na área do Direito, no Tribunal de Justiça, pois como diria Raul Seixas, “a verdade do universo é a prestação que vai vencer.” Além disso, tenho um consultório de psicanálise, onde atendo três dias na semana e exerço minha arte da escuta, a partir do rigor teórico da psicanálise. Também costumo produzir eventos culturais em que posso contribuir para a cultura do meu estado, valorizando os talentos que temos em todos os segmentos artísticos.
PASSATEMPO – Não fazer nada – literalmente! Adoro ficar deitada e pensar sem ter a obrigação de ter meus pensamentos organizados. Adoro estar com amigos e tomar vinho, ouvir música, ler poemas, ficar horas na cama abraçando os meus filhos, brincando de cócegas e cheirinhos… O que mais? Ficar me balançando na cadeira de balanço e batendo um papo filosófico. Isso tudo me ajuda a relaxar!
AMIZADES – Inevitáveis e fundamentais. Faço amigos com muita facilidade – é incontrolável. Antônio Frota Neto tem sido um amigo fundamental. Ele me ajudou a construir caminhos e a ter paciência comigo mesma. Ele também me ensinou a ler meus sentimentos em voz alta e ter cuidado com a exposição dos meus poemas. Aqui, me refiro a ter zelo pelos meus poemas… pelos meus sentimentos. Lembrar que depois de escritos e publicados já não serão mais meus… e sim dos leitores.
VIDA – A vida, às vezes, parece um buraco negro que nos suga sem a chance de gritar por socorro. Outras vezes é uma Bossa Nova feita por Tom Jobim… simples, leve, gostosa. A vida me chega exatamente como as duas coisas, na mesma medida. Equilíbrio é transitar. Às vezes, cair num buraco negro, outras vezes gozar da bossa nova.
FAMÍLIA – A maior contradição que sustentamos os enquanto seres sociáveis. A família é a melhor escola para aprender os conceitos da Psicanálise.
PSICANÁLISE – Conheci a psicanálise através de José Ângelo Gaiarsa. Há 10 anos assisti um vídeo dele. O discurso era extremamente coerente e, acima disso, era aliado à minha forma de enxergar a vida e as relações. Assim, fui pesquisar sobre ele. Encontrei que ele era psiquiatra e psicanalista. Com isso fui entender melhor o que era ser um Psicanalista. Encontrei Freud. E que encontro lindo! Freud é lindo! Um indivíduo que foi capaz de entender a imensidão do homem e respeitar a singularidade que existe em nós. Um homem extremamente generoso. Me apaixonei e, desde então faço análise e estudo muito. Hoje atendo pacientes que estão dispostos a encarar um processo de análise. Fazer análise colabora para aprendemos a viver melhor. Aprender sobre a importância da linguagem e entender que cada sujeito é único, não havendo nada de errado em ser como se é – o primeiro passo para se viver bem – mesmo que isso frustre a expectativa do outro!
CEARÁ – Um lugar lindo… Parece mais como um lugar materno… uma mulher que sabe parir gente corajosa, cheia de talento e criatividade. O Ceará é o melhor Estado do Brasil. Viver aqui é ser privilegiado.
POESIA – Tudo. Simplesmente tudo. A poesia é criar. É transformar. Se aprendemos a transformar as coisas ou se somos capazes de criar/inovar/inventar letras, metáforas, temos mais chances de construir caminhos. Somos capazes de superar melhor as coisas desagradáveis e inevitáveis da vida. Se somos capazes de perceber a beleza de um verso que fala de dor… podemos ver beleza em nós mesmos. Vejo poesia em tudo que sou. Nas minhas entranhas, nas minhas ações, nas minhas escolhas e nos meus medos. Tenho um verso que diz:
De poesia sou feita!
Tudo e de tudo, poesia um pouco quero levar.
A poesia foi quem me ensinou
a sobreviver ao oco da existência.
VITÓRIAS – Minha maior vitória é me sentir amada. Nem sempre foi assim… Ser mãe foi minha maior e mais bem sucedida conquista. Tenho dois filhos – Pedro Antônio e Benjamim – lindos, saudáveis, inteligentes, compreensivos, amáveis… Com eles não importa perder outras batalhas.
PAIXÃO – Paixão é poesia. Me apaixono por tudo. Por todo mundo que me desperta vontade de viver. Sem paixão, viver se torna insosso. Se eu achar que vale a pena, coloco tempero, o meu tempero. Coloco paixão… tenho uma capacidade natural de fazer as coisas vibrarem.
SAÚDE – A primeira coisa que penso quando leio a palavra saúde é na minha forma de enxergar o mundo com o corpo em que habito. Sem saúde tudo falha… é necessário que a intersecção entre “o corpo e o espírito” esteja em paz. Agir com o que se come. Pensar com o que se digere. Algo do tipo.
SONHO – Eita. Tenho tantos… Mas o maior é ver meus filhos felizes, adultos corajosos diante das suas verdades. Outro sonho que tenho é de, um dia, ser menos dura comigo mesma. Sonho é também o apelido do meu filho mais velho, o Pedro Antônio. Então sonhar é uma forma de amá-lo ainda mais. Através dos sonhos podemos nos tornar pessoas melhores, compreender o que ignoramos por algum motivo. E isso nos faz mais fortes.
ADVOCACIA – Trabalho no Tribunal de Justiça colaborando com a prestação jurisdicional. É um trabalho importante diante da população que espera uma resposta rápida da justiça. Não é a minha vocação – sou artista! Contudo, exerço com muito zelo minhas funções e, certamente, isso ajuda a pagar as contas!
AMOR – Aaaaahhh…. o amor é o instante que esquecemos que a caixa de pandora foi aberta. Meu amor sempre se direciona a alguém: meus filhos, marido, mãe, família, amigos, até quando falamos de conquistas e paixões. Sendo mais particular, amo amar o Júlio. Amo tê-lo ao meu lado. Amo ser amiga e companheira dele. Amo dividir a vida com ele. O Júlio me ensinou e tem me ensinado a paz, a calma. Nosso amor é erótico, sensual… de entrega e cuidado. Conversamos e nos respeitamos. Somos inteiros até onde podemos ser. Eu amo o Júlio. Amor é nossa redenção diante de nós mesmos. Tenho um versinho que diz:
“O amor, bem, é isso que esqueceram de explicar.
Talvez porque não soubessem!”
Tem conceito?
PROJETOS – Produzir tudo que eu puder. Tanto na vida pessoal como na vida profissional. Educar bem meus filhos, cuidar do meu relacionamento com o homem que eu amo, estar sempre perto da minha mãe, terminar de pagar todos os financiamentos que ousei contratar. Lançar meu livro de contos “Tristes Flamboyants”, fazer mais apresentações com meu grupo literomusical Soul de Áries e realizar saraus e tantos outros eventos, como também manter meu emprego no Tribunal de Justiça e meu consultório.
MISTURATE – Vamos ter a segunda edição em breve. Pra quem não sabe ainda do que se trata, O Misturarte é um dos projetos que a produtora Dóris Azevedo e eu iniciamos ano passado com a colaboração de muitos parceiros. Estamos em fazer de captação agora. A coisa toda mistura moda, literatura, dança, pintura, desenho, culinária, fotografia, circo e muita música em um sarau cultural no Brew Barn Bar para mostrar a exuberância das artes alencarinas.
MEDO – Tenho medo de tudo. Sou muito medrosa… mas não costumo me ouvir quanto a isso. Todo medo é real, ainda que só exista dentro da gente. Trabalho meus medos em Análise!
FUTURO – Não sei, mas tenho uma visão otimista do futuro… uma cena meio quadro pintado por Monet, onde tudo é bonito. Vou ser uma velha interessante. Já tenho gatos, cabelos brancos e uma cadeira de balanço. Penso que o Júlio estará ao meu lado – ele tomando uma xícara de café e eu bebendo uma cerveja, nossos filhos, netos e amigos, também já velhos chegando em nossa casa imensa para que juntos comemoremos a velocidade contraditória do tempo.
MÚSICA – Tenho tantas preferidas! Depende de como eu acordo. Não tenho como citar uma ou duas – ou dez! A música me é vital. Escuto atenta as músicas que ouço. Sinto a melodia transitar no meu corpo! Conversamos intimamente.
FINALIZAÇÃO – Um poema do Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, chamado “Lisbon Revisited”, de 1923, e esse poema diz tudo.
“Não: não quero nada
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem*, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos? (…)”
*do verbo ‘maçar’ – golpear; surrar; dar pancadas.