Os sorrisos de orgulho, aplausos e lágrimas de emoção nos rostos dos pais, familiares e amigos de pequenos e grandes atores e atrizes que subiram ao palco do Teatro Abre Alas no último sábado, dia 7 de dezembro, às 14:30h, são um reflexo do impacto que a arte pode ter na vida das pessoas. Na mais recente montagem da peça de William Shakespeare “A Tempestade”, adaptada brilhantemente pelo diretor Pedro Mouta, o talento dos alunos da Escola de Teatro Abre Alas foi evidenciado em performances cativantes, que emocionaram a plateia e deram ainda mais brilho à peça do renomado escritor e dramaturgo inglês, por toda a dedicação e resultados a partir de horas de exercícios, ensaios, criatividade e persistência dos que fazem o Grupo de Teatro Abre Alas, alunos, atores de apoio cênico, pais, mães, responsáveis e público.
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Pedro Mouta demonstrou sensibilidade e criatividade ao traduzir a complexidade e o encanto da história em uma versão acessível e envolvente para todas as idades. A adaptação trouxe nuances que destacaram o valor do de temas universais como liberdade e perdão, provocando reflexão e alegria em igual medida e finalizando o período letivo de 2024.
Nossas montagens das peças de Shakespeare começaram com uma ideia do Artur Mouta, quando percebemos que nossos alunos buscavam algo mais denso e relevante. O que apresentávamos até então já não ressoava com eles, então decidimos adaptar textos clássicos para uma linguagem mais acessível. Iniciamos nossa jornada com “Romeu e Julieta”, uma adaptação feita por Artur e por mim, seguida por “Hamlet” e “A Tempestade”, que foram adaptados exclusivamente por mim. Essas novas versões visam conectar nossos alunos à riqueza das obras de Shakespeare de maneira mais direta e envolvente.
“Os nossos festejos terminaram. Como vos preveni, eram espíritos todos esses atores; dissiparam-se no ar, sim, no ar impalpável. E tal como o grosseiro substrato desta vista, as torres que se elevam para as nuvens, os palácios altivos, as igrejas majestosas, o próprio globo imenso, com tudo o que contém, hão-de sumir-se, como se deu com essa visão ténue, sem deixar vestígio. Somos feitos da matéria dos sonhos; nossa vida pequenina é cercada pelo sono.”
A Tempestade, Próspero, Acto IV, Cena I
O Teatro Abre Alas, localizado no terceiro piso do Avenida Shopping, na Avenida Dom Luís, 300, na Aldeota, foi o cenário perfeito para essa experiência. Extremamente aconchegante e com uma estrutura física inovadora – o espaço se adapta a diferentes tipos de eventos, já que não possui assentos fixos ao piso. Essa flexibilidade proporciona um ambiente íntimo e acolhedor, ideal para apresentações que exigem proximidade entre o elenco e o público. Além disso, o teatro conta com o charmoso Café Fantasia, anexo ao espaço, oferecendo delícias irresistíveis para saborear antes, durante e depois das sessões. O Café tem sido um ponto de encontro que enriquece ainda mais a experiência teatral, tornando a visita ao Abre Alas uma vivência cultural completa.
Oh! Que milagre! Que soberbas criaturas aqui vieram! Como os seres humanos são belos! Admirável mundo novo que tem tais habitantes!
Fala de Miranda no Ato V – Cena I
Os jovens talentos, sob a direção de Pedro Mouta, têm se destacado não apenas por suas habilidades, mas também pela coragem de expressar emoções e abraçar o desafio do palco. O orgulho estampado nos rostos dos presentes é um testemunho do quanto a arte pode transformar vidas e criar memórias inesquecíveis.
A Tempestade: o encanto da última obra de Shakespeare
Escrita por volta de 1610-1611, A Tempestade é frequentemente considerada o canto de cisne de William Shakespeare, representando uma despedida de sua carreira teatral. A peça abre com uma violenta tempestade que faz naufragar um navio em uma ilha misteriosa, cenário onde a trama se desenrola. Mas essa tempestade não é apenas literal; é também uma metáfora para as forças emocionais e políticas que Shakespeare explora ao longo da obra.
No centro da narrativa está Próspero, um duque deposto que, com a ajuda de seus poderes mágicos e do espírito Ariel, manipula os eventos para restaurar sua posição e reconciliar-se com seus inimigos. No entanto, sua jornada é mais do que um plano de vingança: é uma lição sobre perdão, humanidade e o abandono do poder. Entre os personagens mais marcantes estão Caliban, o nativo da ilha, que simboliza o “selvagem” em conflito com a civilização, e Miranda, filha de Próspero, cuja pureza e inocência contrastam com o caos ao redor. A história de dor e reconciliação narrada em A Tempestade é também uma meditação sobre o próprio teatro, com Próspero atuando como uma figura semelhante a um dramaturgo, orquestrando o destino dos outros. Suas palavras finais na peça — um pedido por libertação e traduzidas livremente abaixo — são frequentemente vistas como a despedida de Shakespeare ao público.
Agora meus feitiços terminaram e a força que me resta é apenas minha – que é bastante fraca. Agora, é verdade, ou serei mantido neste lugar por vocês, o público, ou irei para Nápoles. Por favor, já que recuperei meu ducado e perdoei aquele que me traiu, não me mantenha aqui nesta ilha deserta com seus feitiços. Em vez disso, use as mãos para aplaudir e liberte-me das minhas restrições. Seus amáveis aplausos encherão as velas do meu navio, caso contrário não terei conseguido alcançar meu objetivo, que era agradá-lo. Agora me faltam os dois espíritos para comandar e também a habilidade de fazer magia. Acabarei em desespero, a menos que meu pedido toque sua compaixão e você perdoe todas as falhas desta produção. Assim como você seria perdoado por seus pecados, seja generoso em sua resposta à nossa peça e liberte-me.
Epílogo de Próspero, cena final