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Homem de Vitórias – Nirez, historiador

Em 12 de maio de 2021, Nirez completa 87 anos de vida plena de lutas e vitórias. Batizado Miguel Ângelo de Azevedo em homenagem ao artista renascentista Michelangelo, Nirez, como é conhecido, é jornalista, historiador, desenhista técnico aposentado e respeitado pesquisador da música popular do Brasil – além de dono de um dos mais completos arquivos sobre a cidade de Fortaleza, Ceará.  Casou-se em 1959 com Zenita e tiveram quatro filhos: Terezinha, Otacílio, Nirez e Mário. Dinâmico, divertido e com uma lucidez assustadora, Nirez fala com esta coluna e juntos celebramos a vida de quem traz à luz a história de muitos homens, mulheres, objetos, instituições e cidades entusiasmadamente há décadas. E como filho de peixe peixinho é: o celebradíssimo Homem de Vitórias da vez também é filho de ninguém menos do que do poeta, escritor e pintor Otacílio de Azevedo. A história hoje é bem preciosa!

 

Foto da capa: Igor de Melo.

Quem é Nirez?

Um menino – hoje não tão menino – curioso e agitado que trabalhou como desenhista técnico no DNOCS até o ano de 1991, se aposentou, mas que desde 1956 colabora com jornais como Tribuna do Ceará, Correio do Ceará e O Povo; foi diretor do Museu da Imagem e do Som entre 2009 e 2015; a pessoa que ocupa a Cadeira de nº 26 da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo com muita honra, é membro do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceara e que continua fazendo o que pode pela cultura e memória da cidade. Comecei a trabalhar aos 17 anos e me fiz desenhista e depois trabalhei com serigrafia. Em 1962 empreguei-me como desenhista técnico no DNOCS, já casado com Zenita. Fiquei no DNOCS até 1991, quando fui designado para trabalhar na UFC, como jornalista. Comecei a escrever para jornais em 1965. Minhas coleções eu iniciei em 1954 e paralelamente entrevistei vultos importantes de diversas áreas profissionais, políticas e artísticas, tudo gravado em fita. Em 1963 coloquei no ar meu programa “Arquivo de Cera” que ainda hoje persiste. Em 1975 participei do I Encontro de Pesquisadores da Música Popular Brasileira em Curitiba e depois de outros cinco realizados no Rio de Janeiro. Como você pode perceber, uma parte de mim é trabalho e a outra – também!

Quais alguns nomes de peso você entrevistou no seu programa?

La vamos nós… Entrevistei para o Arquivo Nirez o cantor Orlando Silva, Jorge Goulart, Altamiro Carrilho, Xerem, Luperce Miranda, Dorival Caymmi, João de Barro, Cruz Filho, Jader de Carvalho, Carlyle Martins, Humberto Teixeira, Luiz Sá, José Menezes, Nelson Ferreira, Otávio Santiago, Aldemar Paiva, Carmélia Alves, Roberto Paiva, Roberto Silva, Euclides Lemos, 4 Ases e 1 Curinga, Vocalistas Tropicais, Mário Alves, Gilberto Milfont, dentre outros.

Onde você mantém seu acervo?

Em minha própria casa. Boa parte dele foi conseguido quando a emissora de Rádio Uirapuru resolveu atualizar sua discoteca com LPs e, graças ao radialista e ex-senador Cid Carvalho, os discos de 78 rotações foram doados para mim. Felizmente, também tenho um grande número de imagens históricas de Fortaleza e outros municípios do Estado, doadas pelo estúdio fotográfico Abafilm quando eles resolveram se desfazer dos arquivos de sua sede no centro de Fortaleza.

O Arquivo Nirez é composto por um rico acervo com livros, revistas, rótulos, fotos, slides, negativos, equipamentos antigos etc. Nele, um dos destaques é a coleção de 22.000 exemplares de discos de cera. Foto: Igor de Melo.

 

Qual a principal atração do seu acervo?

Acredito que a coleção de discos de cera de gravações em 78 rotações considerada uma das maiores do país em gravações brasileiras comerciais, com um montante de mais de 22 mil exemplares. Ela contempla todas as fases da produção musical nacional de 1902 a 1964.

 

 

Ao longo de sua carreira, além de trabalhar em colaboração com diversos profissionais, dar palestras e atuar como consultor em vários projetos pela cidade, Nirez escreveu também alguns livros: Discografia Brasileira – 78 rpm: 1902-1964, publicado em 1982, Fortaleza de Ontem e de Hoje, em 1991, Cronologia Ilustrada de Fortaleza, em 2001, O Balanceio de Lauro Maia, em 2004, Humberto Teixeira – Voz e Pensamento, em 1995, Cronologia ilustrada de Fortaleza, em 2001 e A História Cantada no Brasil em 78 Rotações, em 2012 . Pelo seu vasto trabalho e contribuições, Nirez recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos, dentre eles a Medalha do Mérito Cultural da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, PE, em 1982; o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e o Troféu Sereia de Ouro, do Grupo Edson Queiroz, ambos em 1994.

 

Nirez com Dona Yolanda Queiroz, em 1994, recebendo o Sereia de Ouro.

 

E como foi chegar firme e forte na casa dos 80?

Meus 80 anos de idade, comemorei saltando de paraquedas. De lá para cá tenho mantido corpo, mente e espírito sãos. Eventuais idas ao médico para sanar pequenos percalços e sustos que dou a minha família, mas tudo bem. O último foi em novembro de 2018. Tenho sido mais piedoso com eles – e comigo – ultimamente!

O que você me diria que você nunca mencionou nas mídias?

Caro Márcio, vou lhe contar algo de mim. Morei em um sítio nos fundos do Palácio do Plácido e tive uma infância muito feliz até que aos 7 anos, nos mudamos para uma casa que nem quintal tinha e me colocaram para estudar. Me senti encurralado por todos os lados! Eu era um péssimo aluno, mas eu gostava de ler, e aprendi muito tanto nos livros quanto em casa com as conversas com meu pai e meus irmãos, o que compensou grandemente o meu desempenho na escola.

Como começou o seu interesse pelos discos?

Eu sou filho de fotógrafo, poeta, pintor e escritor. Conheci o mundo dos discos quando meu pai fez um retrato a óleo do pai de um amigo seu e recebeu em troca um gramofone e uma porção de discos. Decorei as informações de cada disco e ainda hoje me lembro delas.

 

Quais os ganhos e benefícios de um guardião do tempo e da memória de um povo?

O ganho que tem um guardião da memória é a satisfação de ver brotar uma reação de plena alegria nas pessoas que nos visitam ou escutam uma música de sua época. Temos lágrimas, sorrisos, palpitações, olhos curiosos e brilhantes, histórias recontadas despertadas nos corações e nas mentes de cada visitante. E para os muitos pesquisadores que nos procuram, a certeza de ter ajudado a manter viva a vida imaterial de um povo.

O que você tem feito neste ano de pandemia?

Nesse ano de pandemia tenho participado das reuniões on-line do Instituto do Ceará e da Secult além de fazer produções culturais através do YouTube e tenho colocado em dia a digitalização do meu acervo. O tempo não para!

 

 

Qual o futuro de suas coleções e arquivos?

Pensando no futuro do acervo, já que estou com 86 anos, registrei a firma Arquivo Nirez S/A, e tenho como sócios meus filhos, todos extremamente ligados e interessados no assunto.

Você ainda aceita doações de imagens e objetos?

Certamente. Como não as aceitar? Parte do que sou e do que tenho feito pela cidade proveio de doações. Ainda aceitamos doações, sim, mas atualmente elas apenas “pingam”. Pessoas interessadas em fazer doações podem entrar em contato pelo telefone (85) 3281-6949.

Você tem um conselho para as gerações futuras?

Meu conselho para as futuras gerações interessadas em memória é que guardem coisas atuais porque logo terão um bom acervo antigo. E aos que não têm esse interesse, que vivam intensamente porque a vida é muito curta. Mas curtam com responsabilidade e respeito!

 

“Choupana, coqueiro e jangada em praia do Ceará”, óleo s/tela, 30 x 40. Otacílio de Azevedo (1892-1978).

 

Otacílio de Azevedo, o pai de Nirez, nasceu na cidade de Redenção, Ceará, em 11 de fevereiro de 1896 e faleceu em Fortaleza no dia 3 de abril de 1978, aos 82 anos de idade. Foi pintor, poeta, prosador, fotógrafo e jornalista. Otacílio faz parte dos grandes nomes da Literatura Cearense, aclamado pelo escritor Antônio Sales e pelo poeta e historiador Dolor Barreira, como um dos versejadores mais brilhantes de sua geração. Nas Artes Plásticas, Otacílio é reconhecido pela sua inserção na vida artística e cultural local, principalmente, nas décadas de vinte e trinta, como retratista e paisagista. Diante disso, o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará relata que sua obra é referência de arte plural e reafirma a herança histórica regional da produção e entendimento artístico-cultural cearense. Uma curiosidade sobre Otacílio de Azevedo, como retratista, é que é de sua autoria muitos dos retratos dos governadores do Estado do Ceará que se encontram expostos no palácio do Governo.

 

MIS-CE: O FUTURO DA IMAGEM E DO SOM

Museu da Imagem e do Som. Foto: Tatiana Fortes.

O Museu da Imagem e do Som (MIS) está na reta final das obras de modernização para receber o público brevemente, com muito mais conforto. O equipamento passa por serviços de instalação, testagem e acabamentos finais. “A obra do MIS é uma ação estratégica do Governo Estadual, por meio da Secretaria da Cultura, que reúne preservação e modernização em um único investimento. Com a obra pronta, o Ceará terá um dos museus mais modernos e bem equipados do Brasil e integrado ao complexo do Palácio da Abolição”, projeta Fabiano Piúba, titular da Secult. Em 2.700 m², o MIS apresenta dois espaços principais: a casa sede, destinada à administração e pequenas exposições, e um bloco anexo multifuncional, com cinco pavimentos, voltado para exposições de longa duração e eventos, onde está a maioria das novas estruturas. Segundo o diretor de Obras Especiais da SOP, Silvio Campos, esse bloco multifuncional será climatizado e terá um elevador instalado. Ao todo, o projeto do museu conta com diversos ambientes para acomodar o acervo audiovisual que retrata a história cearense, além das áreas de vivência e técnica como estúdios para edição de vídeo e gravação de som, sala de triagem e revisão de filmes, salas de projeção, locais para exposição e atividades culturais, laboratórios de conservação, digitalização e fotografia, auditório, biblioteca, café e pátio externo.

Fabiano Piúba, Secretário da Cultura do Ceará. Foto: Tiago Stille.

“A Casa, que foi tombada como Patrimônio Cultural e Histórico, passou por uma reforma e restauração que realça seus aspectos arquitetônicos, dando-lhe condições mais adequadas para receber exposições, mas terá o funcionamento da área administrativa. Tão relevante quanto este restauro é a construção do Novo MIS, um equipamento extremamente moderno em sua concepção arquitetônica, mas também funcional, estética, conceitual e em sua gestão vinculada às políticas de patrimônio cultural, acervo e memória. O Novo MIS será um espaço com condições para um programa arrojado de exposições, formação, pesquisa, conhecimento e com a salvaguarda de seu acervo”, define Fabiano Piúba.

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Márcio Correia

Graduado em Psicologia e Inglês, pela UMHB, nos EUA, e com cursos de aperfeiçoamento em gerenciamento e marketing feitos ao longo de sua vida, Márcio é um entusiasta e adora gente, cultura, festas e novidades. Já morou nos EUA por muitos anos e sempre que pode encontra novos lugares para conhecer. Acumula boas experiências nas áreas da música, moda, design, arquitetura e organização de eventos. Já foi colunista em um jornal local e atualmente organiza eventos sociais e empresariais, além de ser professor de inglês e assinar a coluna OCASIONAIS para o Portal ConceituAdo

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