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Homem de Vitórias – Júlio Soares, poeta-celebrante  |  @casamentopoetico

Júlio César Martins Soares é de Minaçu, uma cidade de um pouco mais de 20 mil habitantes no extremo norte de Goiás. Poeta, filósofo, psicanalista e celebrante da vida, do amor e do que geralmente oficializa estes dois conceitos – casamentos. César se diz apaixonado pela poesia. “É um terreno que sei pisar. Onde me sinto confortável. É o caminho de transformação em que acredito que um dia as coisas possam mudar,” fala com segurança e um brilho extra no olhar. Hoje assimilaremos mais sobre ele e seus feitos. Nosso entrevistado da vez foi seminarista franciscano por muitos anos; cursou filosofia e teologia; fez mestrado em Ciências da Educação; estuda psicanálise e mostra-se ávido por absorver o que quer que a vida o apresente. A seguir, César Soares compartilha em palavras seus sentimentos, esperanças e ideais – como todo bom poeta sabe bem fazer!

 

 

Qual a sua profissão?

Sou um poeta-celebrante! Contudo, transito entre a psicanálise, com atendimentos aos pacientes e as celebrações matrimoniais falando de amor e de poesia. Tenho me esmerado a cada dia no amor pelas palavras, na busca de seus radicais e de como são formadas as palavras… etimologia e filologia* me fascinam!

Como um homem das letras, dos pensamentos e das emoções passa seu tempo livre?

Quando estou só, gosto de – literalmente – não fazer nada: deitar-me no chão ou na rede e olhar o tempo, sem nem mesmo notar que ele passa. Tenho dois ótimos companheiros nessas horas. Léo e Tobias. Dois gatos. O Léo foi adotado. Nossos filhos preferem gatos e o fato de morar em um apartamento, fez com o que escolhêssemos dois gatos.

Léo, o gato

E quando está com amigos?

De pronto assim? Adoro minha esposa e musa, Alana. Sou um tanto antissocial, tímido talvez. Tenho poucos amigos. Não tenho um amigo confidente, a quem expresso meus sentimentos…. Apenas amigos que ao longo dos anos fizeram parte da minha vida desde os tempos do seminário, contados nos dedos das mãos. Tenho um amigo intelectual. Falamos sobre literatura e psicanálise. Sua ajuda tem sido valiosa na construção de alguns textos. Costumo dizer que Alana é a pessoa mais inteligente que eu já vi e, esse amigo, um dos maiores intelectuais. Sei distinguir bem os vizinhos, amigos, colegas, parentes. Amigos são valiosos, raros, se os são, são poucos.

E esse homem tímido que admira sua musa vem de onde?

Venho de uma família mineira-goiana, pacata, pouco devota de festas, mas que gosta de se reunir, comer pamonha, fazer churrasco, estar juntos, calados, muitas vezes. Muito embora a família que formei, com esposa e filhos, sejam a realização de um sonho – um desejo de manter a imortalidade, de disseminar amor por muitas gerações. Família é uma preciosidade.

Alana Alencar, Jô Castro, Júlio Soares e Cabeto Carvalho em sarau cultural.

Como você se sente no Ceará?

O Ceará é uma terra que me acolheu, recebeu meus sonhos e os fez sair do papel. É uma terra que abriga, é a minha segunda casa, não me sinto um estrangeiro aqui. Sinto-me bem acolhido. Fortaleza, de modo especial, é um palco aberto para todos os seguimentos e, à medida que meus planos apareciam, as oportunidades também foram surgindo e se transformando em realidade. O Ceará me encanta!

Como surgiu a ideia de celebrar casamentos?

Nasceu da adaptação e direcionamento de alguns conhecimentos que adquiri ao longo dos anos de estudos no seminário franciscano e da habilidade em falar de amor. Em uma certa feita, um casal de amigos me pediu que eu fizesse a celebração matrimonial deles, alegando que eu tinha sido “padre” e sabia como funcionava a coisa toda. Este foi, então, o pontapé inicial para os mais de 10 anos trabalhando com celebrações e tornando o casamento de muitas pessoas um poema de amor inesquecível.

Como isso funciona?

Tecnicamente, um celebrante de casamento é o profissional que conduz as cerimonias de união de um casal. Diferentemente de um padre, um pastor, ou um juiz de paz, um celebrante não possui autoridade para legalizar o casamento, mas conta com outros benefícios, como realizar cerimônias mais leves e personalizadas. Um celebrante faz uma cerimônia de acordo com o perfil dos noivos. Pode-se dar a ela uma conotação religiosa, ou mais neutra, falando apenas de amor que envolve os nubentes. Uma percepção sobre a história do casal é essencial. Geralmente a cerimônia, por esta razão, torna-se mais leve, descontraída e envolvente. Em reunião prévia com os noivos, eu ouço a história de amor dos dois e conduzo a celebração. A oficialização se dá com a assinatura dos documentos do cartório, após a cerimônia social.

Algum casamento que você celebrou teve mais destaque ou repercussão?

Um, em especial, chamou a atenção de todo o país. Fiz a celebração do casamento de Carlinhos Maia e Lucas Guimarães em maio de 2019. Um casamento cheio de beleza e originalidade. A riqueza de detalhes regionais ficou ainda mais nítida às margens do Rio São Francisco, na divisa entre os Estados de Sergipe e Alagoas.

Quais as suas vitórias?

A cada dia há sempre vitórias aos olhos atentos e corações agradecidos. Sou filho de analfabetos, trabalhadores rurais, que sempre foram muito próximos, mais calados do que falantes. Por outro lado, eu sempre me encantei pela literatura, de modo especial pela poesia. Em uma de minhas rezas eu pedi a Deus que não me deixasse morrer sem viver um grande amor e que ela topasse viver de poesia. E eu recebi o que pedi a Deus! Outras grandes vitórias foram ter formado uma família e ter conquistado espaço e reconhecimento no meio intelectual.

Qual a sua paixão?

Abrir livros, dialogar com as pessoas mais inteligentes de todos os tempos, como Fernando Pessoa, Amado Nervo, e os poetas que traduzem os sentimentos mais viscerais e saber que em cada página abriga um sonho ou a resposta a cada indagação que eu fizer. Deleito-me em me aventurar no desconhecido sem fim do mar das palavras. Dois livros mudaram minha visão de mundo: “O velho e o Mar” de Ernest Hemingway, e “Dom Quixote” de Miguel de Cervantes; o primeiro pelo jeito singular de manter-se fiel às próprias virtudes e o segundo pela subjetividade utópica de concretização do sonho.

Mente sã e corpo são. Isso é uma verdade para você?

Às vezes penso que sou de ferro, que tenho muita saúde. Uma hérnia de disco e um bico de papagaio me fazem repensar minha existência. Preciso me cuidar mais. Ando de bicicleta, caminho, bebo muita água e pouco álcool. Escuto minha respiração. Creio que caminho para um equilíbrio.

E a vida? E a vida o que é? Diga lá, meu irmão!

É uma contradição. Um paradoxo perfeito. Viver ultrapassa meus limites e a vida, ao tempo que é tudo, é também um mero detalhe, uma aposta, um risco, um salto no inseguro, uma centelha na imensidão. Um absurdo. Um desassossego confortável. Um risco que vale a pena, quando se vive intensamente. Buscando ao máximo a realização de todos os meus sonhos, como se pudéssemos sugar da vida até a sua última gota.

E que sonhos seriam esses?

Andar sem medo. Sonho que a terra possa ser um lugar mais dócil, mais calmo, onde se caia em desuso o ódio e o desrespeito, o mundo como um lugar manso, pacífico. Na minha vida, o medo não é uma palavra recorrente. Coragem é mais utilizada no meu vocabulário. Prefiro pensar a palavra ao seu contrário. Gosto de estar mais no controle.

Vamos pregar o amor, então!

Ele é sempre a inclinação de algo a algo por causa de algo. Ele responde por um nome: Alana, nesse nome o mundo se faz. Durmo e acordo pensando todos os dias do privilégio de ter esse amor. De amar e ser amado, de entender que posso ser ainda mais forte com ela do meu lado. É um sentimento muito precioso. Que me faz sair de mim e ir de encontro a esse amor maior que contagia as pessoas e as faz acreditar que o amor está ao alcance. Ao olhar nos olhos dela, ela me faz enxergar-me melhor e ser bem acolhido em sua e na minha completude. Amor é o nome que mais gosto de pronunciar, amor não pode ser pergunta. Amor é o caminho, a resposta, a afirmação.

E cheio de amor e em busca desta completude, quais são seus projetos?

Tenho muitos voltados para a filosofia e poesia. Em tempo certo, aparecerão. Mais especificamente, tenho um projeto de conversa com convidados que, entre um gole de uma xícara de café e outro, possam dialogar sobre os temas que atravessam a existência humana.

Você tem uma canção que lhe inspira?

Tenho, sim. “Do you remember” de Phil Collins traz muitas recordações boas. Esta canção me faz recordar a mulher que eu amo, os sonhos conquistados e me inspira a lembrar sempre do amor que me move, que me faz agir cada vez mais intensa e vigorosamente. É onde me recarrego.

Uma palavra final?

Gosto de falar de amor. Penso que quando falo de amor é porque vivo intensamente essa sensação de amar e ser amado e quero muito que as pessoas experimentem o que sinto e que sejam invadidas por esse sentimento. Quero que o que sinto também sintam. Isso por si só já é a eternidade. Creio que não falamos sobre Deus. É necessário que falemos sobre e a respeito. Antes, porém penso que seja mais importante que se fale com Ele, ou de se ser um lugar onde Deus habita, ou ainda de como ser um instrumento Dele na vida das pessoas. Falo de um Deus maior. Aquele que torna a pessoa um pouco melhor, mais acolhedora, mais amável, mais tolerante, mais feliz. Um Deus visível o bastante, presente em todas as coisas.

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Márcio Correia

Graduado em Psicologia e Inglês, pela UMHB, nos EUA, e com cursos de aperfeiçoamento em gerenciamento e marketing feitos ao longo de sua vida, Márcio é um entusiasta e adora gente, cultura, festas e novidades. Já morou nos EUA por muitos anos e sempre que pode encontra novos lugares para conhecer. Acumula boas experiências nas áreas da música, moda, design, arquitetura e organização de eventos. Já foi colunista em um jornal local e atualmente organiza eventos sociais e empresariais, além de ser professor de inglês e assinar a coluna OCASIONAIS para o Portal ConceituAdo

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